A
DIMENSÃO EDUCATIVA DA GREVE/OCUPAÇÃO E A PRÁTICA DOCENTE
Ivan
Hanauer 1
Laís
de Oliveira 2
O
objetivo do nosso trabalho é buscar e analisar notícias e artigos
que representem a visão da mídia em relação à imagem do
professor durante as greves e/ou ocupações tanto na educação
básica quanto no ensino superior. Especificamente, objetivamos
mostrar como os meios de informação tratam a postura do
profissional de educação nesse contexto.
A
partir de uma pesquisa no jornal O Globo online, com as seguintes
palavras-chave: “professor”, “aula”, “greve” e
“ocupação”, buscamos dados que, a partir desse recorte,
evidenciassem o trato da mídia sobre a prática docente durante as
greves e ocupações, ou seja, durante a ausência das aulas
regulares e oficiais, com a finalidade de se concluir como esta
prática é considerada (ou não considerada). Escolhemos o jornal O
Globo pela sua referência e relevância na formação de opinião,
portanto, pensamo-la como representativa da grande mídia.
Na
diversidade dos títulos das matérias que constitui o corpus
encontrado, observa-se o trato técnico e burocrático sobre o
ensino, focalizando, a partir do plano de fundo de greve e/ou
ocupação, somente preocupações quanto à continuação ou o
término destes, ou, ainda, sobre o fato de haver ou não aula. A
observação fica evidente com os seguintes trechos:
Membros do Sindicato Estadual dos
Profissionais de Educação do Rio
de Janeiro(Sepe)
e professores participam de uma reunião na manhã desta quinta-feira
(2), onde vão decidir se a greve vai continuar ou não. (GLOBO,
02/06/2016)
De acordo com o professor de
história José Eduardo Mariani, nenhum professor que não está em
greve foi ao colégio nesta quinta. "No caso aqui da nossa
escola, 80% dos professores estão em greve. Então, mesmo que não
viesse professor não-grevista aqui, hoje, só 20% iria dar aula",
afirmou. (GLOBO, 02/06/2016)
A
concepção de “aula” é a que se referem é o encontro formal
que segue uma certa lógica temática dentro de um espaço e tempo
delimitados, e dentro de uma dada conjuntura de status
quo.
Qualquer adversidade que fira essa conjuntura já põe em jogo a
existência de uma “aula”, ainda que se possa observar práticas
educativas fora desse formato conservador – inovação que
pode ser até mais impactante e produzir com mais rigor o senso
crítico nos estudantes.
Dentre
os oito artigos resultantes da pesquisa, nenhum ocupou-se ou
interessou-se sobre a função do professor como educador fora de
sala de aula e de sua prática profissional, tendo em vista a
mobilização comum destes durante as greves e ocupações,
realizando encontros, debates, “aulões”, ou até mesmo em
orientações informais. A mídia (representada, nesta pesquisa, pelo
jornal O Globo) focaliza somente a dimensão técnica do professor,
enquanto regente de aulas regulares destinadas a funções
específicas: dar todo um conteúdo pré-definido para exames, como
vestibulares, ou para a qualificação para o mercado de trabalho.
Weber (2003) apresentou uma justificativa para essa concepção
limitada da função de um professor:
“Essa visão profissionalizante
da docência, com predomínio do seu caráter tecnicista e
instrumental, em um contexto no qual se consolidava a compreensão da
importância da educação escolar para a construção da democracia
e ganhava relevo o papel do professor, como educador, na oferta de
uma escolarização de qualidade, tornou-se um obstáculo
considerável para o debate a respeito da profissionalização da
atividade de ensino no país”. (WEBER: 1131)
Como
se pode observar, essa concepção, de um certo modo, limita a
prática da profissão, sendo que para ser professor é preciso ter
consciência da necessidade de abordar não somente conteúdos
disciplinares e sim promover o desenvolvimento da consciência
crítica dos alunos, ajudá-los a se reconhecerem como cidadãos e a
terem ciência da sociedade ao seu redor.
Observamos
também que evidencia-se somente seu papel burocrático na luta pela
continuação ou extinção da greve ou do movimento/ocupação.
Quando é citada alguma atividade durante a greve, esta segue os
moldes dos conteúdos das aulas regulares:
Durante o período de greve e
ocupação, os professores grevistas fazem oficinas para as provas do
Enem com os estudantes para eles não se prejudicarem no vestibular
[...].(GLOBO, 02/06/2016)
Ou
ainda:
Durante a ocupação, que já
dura algumas semanas, alunos do movimento afirmaram que durante a
paralisação, ocorreram “aulas no estilo ocupação”, onde os
alunos, esporadicamente, recebiam conteúdo de determinada disciplina
por algum professor. (GLOBO, 02/06/2016)
Alguns
outros indícios nos próprios artigos e notícias evidenciam a
existência de atividades alternativas e mediações dos professores
durante a greve/ocupação, mas não desenvolve-se qualquer trato
aprofundado que legitime, de alguma maneira, essa prática educativa,
pois limitam-se à descrição do fato sem situar a importância da
prática docente durante esses momentos:
Professores da escola ligados ao
Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação (Sepe) orientavam
os alunos para que evitassem confusão e sujeira no colégio.
Comissões formadas pelos manifestantes se organizavam para promover
aulas e atividades culturais, limpeza e alimentação (...) (GLOBO,
23/03/2016)
O
mais próximo que chegou-se a uma reflexão crítica sobre a
relevância político-social da greve ou das ocupações — um
artigo intitulado Quais
partidos nascerão desses jovens que ocupam escolas?
— não considerou o papel fundamental do professor como educador e
mediador de um momento formador de protagonismos dos jovens,
limitou-se a situar a importância e centralidade do assunto:
A ocupação das escolas e a
greve dos professores deveriam ser a principal pauta da cidade, mas
vivemos o folhetim do impeachment e simplesmente ignoramos outros
fatos decisivos de nosso futuro. (GLOBO, 3/04/2016)
Diante
das observações elencadas, podemos depreender que o não tratamento
do posicionamento político-social do professor em sua prática
pedagógica fora de sua função técnica, nos revela, nas
entrelinhas, certo desdém em relação ao papel da educação como
formadora de cidadãos conscientes de suas realidades sociais. Ou até
mesmo um abafamento da força político-social de um profissional da
educação.
Referências
WEBER,
S. PROFISSIONALIZAÇÃO DOCENTE E POLÍTICAS PÚBLICAS NO BRASIL.
Educ. Soc., Campinas, vol. 24, n. 85, p. 1125-1154, dezembro
2003.Disponível em <http://www.cedes.unicamp.br/>
Matérias investigadas
2
- Graduanda de Letras – Português-Literaturas na Universidade
Federal do Rio de Janeiro
DATA
DE CONCLUSÃO: 14/07/2016